quarta-feira, 20 de abril de 2011

Funny Games U.S.: Violência e metalinguagem

O filme desde o início nos dá uma sensação de que foi feito com pouco recurso, depois me dei conta que sua trilha sonora só tem uma música paga, as demais são músicas de domínio público.
Uma família vai a sua casa de veraneio, encontra com seus vizinhos, que aparentemente estão estranhos, depois os dois jovens, Peter e Paul, que estão hospedados na casa dos vizinhos aparecem para pedir ovos emprestados. E é como tudo começa, Peter e Paul ficam testando a paciência e a hospitalidade dessa família até o momento que, como qualquer pessoa normal, se irritam e são rudes com os dois. Não dá mesmo para entender o que eles são e porque agem daquela forma, simplesmente eles começam a maltratar a família.
O diálogo e o roteiro nos prega peças a todo momento, você acredita em muitas horas que a família vai se salvar dos psicopatas, mas esse filme não é um triller comum, é um filme feito para você presenciar, ser testemunha de uma cena e apenas isso, o filme não tem nenhum compromisso com o espectador, na verdade o espectador que tem um compromisso com o filme e os personagens.
Nos primeiros 30 minutos você desiste de entender e conhecer os vilões, afinal, não faz diferença quem são e porque fazem aquilo, o importante é o que está acontecendo no momento: uma aposta pela vida daquela família e para quem você, espectador, está torcendo. E você torcerá pela família, afinal a família luta pela vida dela, nada de ruim acontece porque eles são burros, como nos trillers de psicopatas que assistimos por aí, eles são inteligentes e lutam pela sobrevivência, mas, repetindo, isso não importa.
Em alguns momentos se mostra claramente que os personagens sabem da nossa existência, que estamos ali, torcendo pela família, nervosos com as cenas violentas e com raiva dos dois vilões. Estamos presenciando o acontecimento e tudo só está acontecendo porque estamos com o filme rodando. De certa forma somos tão responsáveis pelo que está acontecendo quanto os vilões ou a família, que assinou sua sentença quando foi rude com os vilões.
O filme me faz lembrar o Laranja Mecanica, não apenas por seus requintes de crueldade, mas também pela roupa de Paul e Peter, as luvas dos dois me lembra o figurino do segundo filme.
O nervosismo em um certo momento acaba e quando acreditamos que estamos no final, as coisas voltam ao nervosismo de antes. O fim é tão tenso quanto o restante do filme, não acaba como esperamos, é o que aconteceria em qualquer sequestro desse tipo, não há porque lidar com pessoas capazes de fugir de assassinos covardes, porque na realidade isso não acontece. Nunca na vida real depois de algo do tipo uma família sairia ilesa e tudo voltaria ao normal.
Temos certeza da metalinguagem no filme quase no final, nos dando certeza de nossas dúvidas em relação aos personagens saberem ou não de nossa existência, realmente somos testemunhas desse crime e temos parte da culpa. No final Peter e Paul estão apenas nos entretendo com jogos que eles consideram divertidos. Somos convidados a conhecer o desconforto de assistir uma violência real, sem redenção e felicidade no final.

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