quinta-feira, 21 de abril de 2011

Camille Claudel, uma artista a sombra de seu amante

Camille Claudel, mais conhecida como amante de Auguste Rodin, era uma escultora com trabalhos maravilhosos, desde muito nova, demonstrava seu brilhante talento. Apesar disso, graças ao machismo da época, viveu a sombra de seu amante, trabalhando por muito tempo como sua ajudante. Sua invisibilidade aconteceu graças ao machismo da sociedade artística (que também existe hoje em dia) do século XIX.
Camille era uma mulher diferente das demais mulheres de sua época, ela desejava seguir sua carreira e, por sorte, tinha o apoio de seu pai, que levou a família pra Paris para que sua filha pudesse estudar escultura e crescesse como artista. Quando conheceu Rodin, ela não era conhecida, estava começando seu trabalho, Rodin, apesar do contrato para esculpir as Portas do Inferno e Os Burgueses de Calais, ainda era mal visto pelos criticos daquela época.
Camille foi convidada para trabalhar com Rodin, e com o tempo eles começaram a ter um relacionamento amoroso. Os dois viveram por muito tempo como amantes e isso trouxe influência de um no trabalho do outro. Camille e Rodin se mudam para o “retiro pagão”, uma casa alugada pelo escultor para os dois viverem. Nessa época, Camille começa a produzir trabalhos como Sakundala e os bustos de Paul e Rodin, vistos muito bem pela crítica. Apesar disso, a sociedade continuava a condená-la, por ser mulher e, para piorar, amante de um homem casado, isso a impediu de concorrer a concursos de obras públicas. A escultora engravida de Rodin, que a manda para o interior nessa época, ela acaba perdendo o filho. Seu irmão a considera impura e suja após esse aborto.
Depois desse aborto, Camille rompe o romance e começa a trabalhar em um ateliê próprio, negando qualquer influência do escultor e ex-amante, a escultora tenta conseguir encomendas sem a ajuda de Rodin. Nessa mesma época, Camille começa a beber, chegando a expor, mas nunca aparece em suas exposições, dizendo que está muito acabada para se expor. Camille se corresponde com Eugène Blot, dono de uma galeria que seus trabalhos eram vinculados, contando a necessidade de dinheiro e a dificuldade de conseguir encomendas por ser mulher.
Os vizinhos ouvem a escultora o tempo todo gritar “o canalha do Rodin”, Camille passa a detestar o mundo artístico, acreditando que todos são parte do grupo de Rodin. Ela acredita que seus trabalhos e desenhos seriam roubados, executados, dando sucesso a outra pessoa e excluindo seu nome de vez do meio artístico.
Camille passa a acreditar que está sendo perseguida por Rodin e não muda de opinião até sua morte, ela começa a delirar, acreditando que conhecidos do escultor estão tentando entrar em sua casa. A partir daí, todo ano no mês de julho, Camille destruía suas obras e depois sumia por um tempo. Seu pai, até o fim da vida, a mantém financeiramente e tenta convencer seu filho, Paul, a interceder com sua mãe para que ela se aproxime de Camille, quem sabe ela não melhorasse. Mas a mãe da escultora continua irredutível, não desejava se relacionar com a filha. Assim que seu pai morre, Camille é internada pela família em um asilo.
Camille passa sua vida sendo preterida, primeiro por sua mãe e depois pelo amante. Sua mãe a teve um ano e três meses após a morte prematura de seu primeiro filho e não a queria pois esperava que nascesse um menino. Rodin nunca abandonou sua esposa para ficar com a escultora, não a assumindo como mulher. E decepciona seu pai ao se apaixonar por Rodin e abandonar sua carreira por causa dele. Camille, infeliz, fala em uma de suas cartas que deveria ter deixado esse trabalho e comprado vestidos, que o que ela fazia combinava com barbas e caras feias, não com uma mulher relativamente bem dotada pela natureza.
A escultora escreve para a mãe durante os trinta anos em que ficou no asilo, pedindo para que ela a tirasse de lá, mas a mãe proibe que o diretor a deixe sair de lá. Ao mesmo tempo que pede a sua mãe pra sair, culpabiliza Rodin por sua internação, preferindo a indiferença de Rodin à raiva de sua mãe. Camille continua internada e sem esculpir até sua morte.

A escultora foi culpabilizada por sua mãe e pela sociedade artística por não ser homem, vivendo no preconceito e na sombra de um amante que não a via como uma artista talentosa, Rodin a via no máximo como uma ajudante ou uma musa, nunca como uma colega de trabalho. Também foi o machismo que a afastou de seu pai e irmão, que não aceitavam que ela fosse amante de Rodin. Uma artista brilhante que foi pouco conhecida por sua capacidade e talento, tendo fama apenas de louca e amante de um artista que era machista e mulherengo.


Saiba mais sobre a artista:

Filme

Camille Claudel, Bruno Nuytten, 1989;
Livros
DELBÉE, Anne, Camille Claudel: uma mulher, São Paulo: Martins Fontes, 1988.
WAHBA, Liliana Liviano, Camille Claudel: criação e loucura, Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2002.
ROCHA, Ana Maria Martins Lino, Escolha da paixão: uma análise do romance entre Camille Claudel e Auguste Rodin à luz da psicanálise, São Paulo: Vetor, 2001.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Funny Games U.S.: Violência e metalinguagem

O filme desde o início nos dá uma sensação de que foi feito com pouco recurso, depois me dei conta que sua trilha sonora só tem uma música paga, as demais são músicas de domínio público.
Uma família vai a sua casa de veraneio, encontra com seus vizinhos, que aparentemente estão estranhos, depois os dois jovens, Peter e Paul, que estão hospedados na casa dos vizinhos aparecem para pedir ovos emprestados. E é como tudo começa, Peter e Paul ficam testando a paciência e a hospitalidade dessa família até o momento que, como qualquer pessoa normal, se irritam e são rudes com os dois. Não dá mesmo para entender o que eles são e porque agem daquela forma, simplesmente eles começam a maltratar a família.
O diálogo e o roteiro nos prega peças a todo momento, você acredita em muitas horas que a família vai se salvar dos psicopatas, mas esse filme não é um triller comum, é um filme feito para você presenciar, ser testemunha de uma cena e apenas isso, o filme não tem nenhum compromisso com o espectador, na verdade o espectador que tem um compromisso com o filme e os personagens.
Nos primeiros 30 minutos você desiste de entender e conhecer os vilões, afinal, não faz diferença quem são e porque fazem aquilo, o importante é o que está acontecendo no momento: uma aposta pela vida daquela família e para quem você, espectador, está torcendo. E você torcerá pela família, afinal a família luta pela vida dela, nada de ruim acontece porque eles são burros, como nos trillers de psicopatas que assistimos por aí, eles são inteligentes e lutam pela sobrevivência, mas, repetindo, isso não importa.
Em alguns momentos se mostra claramente que os personagens sabem da nossa existência, que estamos ali, torcendo pela família, nervosos com as cenas violentas e com raiva dos dois vilões. Estamos presenciando o acontecimento e tudo só está acontecendo porque estamos com o filme rodando. De certa forma somos tão responsáveis pelo que está acontecendo quanto os vilões ou a família, que assinou sua sentença quando foi rude com os vilões.
O filme me faz lembrar o Laranja Mecanica, não apenas por seus requintes de crueldade, mas também pela roupa de Paul e Peter, as luvas dos dois me lembra o figurino do segundo filme.
O nervosismo em um certo momento acaba e quando acreditamos que estamos no final, as coisas voltam ao nervosismo de antes. O fim é tão tenso quanto o restante do filme, não acaba como esperamos, é o que aconteceria em qualquer sequestro desse tipo, não há porque lidar com pessoas capazes de fugir de assassinos covardes, porque na realidade isso não acontece. Nunca na vida real depois de algo do tipo uma família sairia ilesa e tudo voltaria ao normal.
Temos certeza da metalinguagem no filme quase no final, nos dando certeza de nossas dúvidas em relação aos personagens saberem ou não de nossa existência, realmente somos testemunhas desse crime e temos parte da culpa. No final Peter e Paul estão apenas nos entretendo com jogos que eles consideram divertidos. Somos convidados a conhecer o desconforto de assistir uma violência real, sem redenção e felicidade no final.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ser bissexual não é fácil!

  • "Ah, mas você gosta de mulher, então é lésbica?"
  • "Como assim? Você fica com homens, então você é enrustida?"
  • "Mas você não deve ser fiel, afinal, se namora um homem sente falta de mulher, se namora mulher sente falta de homem."

Essas frases são muito comuns quando alguém fala que é bissexual. Essas frases preconceituosas, muitas vezes destiladas por pessoas heterossexuais e homossexuais. Existe uma visão solidifcada de bissexuais, de homens e mulheres promíscuos, que não conseguem se manter em um relacionamento fixo. As vezes também encontramos com homens heterossexuais que acreditam que mulheres bissexuais são fáceis e irão satisfazer suas fantasias relacionadas a sexo a três. Muitos gays e lésbicas acreditam que a aceitação de um@ bissexual é mais fácil que de um@ homossexual, afinal, podem ter suas experiências com pessoas do mesmo sexo e viver bem no meio "normal" mantendo um relacionamento com alguém do sexo oposto.
Muitas gente precisa entender a diferença entre quem mantém sua homossexualidade escondida e quem se sentem atraídos por ambos os sexos. Também precisamos entender que ser poliamorista não é ser bissexual, existem heterossexuais poliamoristas, homossexuais poliamoristas e bissexuais poliamoristas. Um bissexual pode sim se relacionar por anos a fio ou décadas com uma única pessoa.
No momento em que criam essas mentalidades sobre bissexuais, criamos um preconceito que nos faz praticamente invisíveis aos olhos da sociedade, somos objeto de fetiche, homossexuais enrustidos, mas não se consegue aceitar a idéia de que temos uma sexualidade diferenciada dos homossexuais e heterossexuais. Quando não entendemos alguma coisa é mais fácil simplesmente ignorar.

Em cima do muro?
Se uma lésbica se sente atraída por mulheres e uma hetero se sente atraída por homens, uma bissexual é o meio termo entre as duas, certo? Errado! Bissexualidade é uma orientação sexual diferenciada, não estamos em cima do muro, nem indecis@s. É difícil explicar nossa orientação para pessoas que vivem com uma idéia binária de atração, um ou outro, não existe um E outro!
Bissexuais não levam o namorad@ do sexo oposto pra jantar com a família e vai para o fervo pegar pessoas do mesmo sexo. Bissexuais desejam amar pessoas do mesmo sexo sem ser chamad@ de "ex-gay" quando terminar o namoro anterior e começar um novo namoro com uma pessoa do sexo oposto.
Existem pessoas que se atraem por mulheres, tem pessoas que se atraem por homens e também tem pessoas que amam independente do gênero do seu parceiro! E não é porque eu não diferencio o gênero que eu "pego qualquer um", eu também escolho parceir@s que me atraiam. Também tenho preferências, existem pessoas que me chamam atenção e outras que não me interessam, também sou exigente e escolho a dedo meus parceir@s.
Nós, bissexuais, somos normais, respiramos, amamos, comemos, descomemos e desejamos ser respeitados como qualquer heterossexual ou homossexual. Então, por favor, quando for falar da gente não nos chame de enrustid@s, indecis@s ou promíscu@s. Aprenda a lidar com a diferença! Precisamos parar de julgar o que não conhecemos, intolerância machuca, magoa e faz mal a saúde.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Música

Não sou católica, mas tem algo nas músicas sacras que me fazem ficar emocionada. Hoje eu quase chorei na igreja, em plena apresentação do coral onde canto.
É curioso ver como a música mexe comigo, uma música de dor de cotovelo me faz chorar, mesmo sem nenhuma decepção amorosa; uma música mais revoltada me faz querer quebrar tudo que está na minha volta; uma música alegre me faz dançar e pular.
Não tenho formação teórica musical, então não me considero uma musicista (me considero uma cantora), mas eu entendo as letras, as notas e me sinto absorvida por esse sentimento. Falando com as meninas do Blogueiras Feministas, montando playlists feministas via twitter e emails, eu tinha picos de emoções completamente diferentes.
E hoje, na apresentação foi o ápice de sentimentos, estava cantando uma música que falava de Cristo que estava crucificado, sendo torturado e a melodia tinha um quê de depressiva. Segurei firme, engoli seco e mantive as lágrimas paradas, que secaram logo depois com as músicas africanas que me fizeram dançar!

Bem, já que falei da playlist feminista aqui vai algumas dicas das meninas que valem muito a pena ouvir no volume máximo:

  • Arch Enemy com "My Apocalypse" - dica da @
  •  Madonna com "Express Yoursefl"
  •  Ludov com "Urbana" - dica da @
  • Bjork com "Army of Me" - dica da @
  • The Pretenders com "I'll stand by you" - minha dica (vídeo aí embaixo)


    domingo, 17 de abril de 2011

    Mulheres e a mutilação corporal - pés e sofrimento

    A mulher sofre mutilações de todas as formas, por motivos religiosos ou estéticos.
    Sei que quando falamos nesse assunto logo nos passa pela cabeça a mutilação genital, mas queria falar sobre outra forma de mutilação nas mulheres:

    Quando vi pela primeira vez algo relacionado a esse costume chinês, eu tinha 10 ou 11 anos, não lembro em qual revista, mas lembro dos depoimentos das mulheres, que contavam sobre o enfaixamento de seus pés, e o depoimento masculino, que sempre falava de como era sensual o formato e o cheiro dos pés daquelas mulheres. Lembro que fiquei tão impressionada que nunca mais esqueci disso. E, assim que tive a oportunidade de escrever sobre isso, em um trabalho de conclusão de curso de extensão de consciência corporal, fiz um paralelo entre os sapatos de salto alto de hoje em dia e os pés dessas chinesas.
    As meninas por volta dos 5 anos de idade tinham seus pés enfaixados por ataduras de 3 metros de comprimento. Com seus ossos, ainda muito maleáveis, se adaptavam ao formato desejado, atrofiando os pés e os mantendo com o tamanho de no máximo 10 cm. Algumas das mulheres entrevistadas contavam que a dor era muito grande: 
    "Doía tanto que à noite que eu desamarrava escondido. Quando meus pais descobriram, eles me bateram e costuraram a faixa"
    Zan, de 97 anos, conta isso para a reportagem da BBC. Nessa mesma reportagem, conta-se que a lei contra o enfaixamento de pés foi criada em 1912, mas isso não impediu que alguns chineses que moravam no campo enfaixasse os pés de suas filhas.
    A maioria das mulheres aceitavam a dor e o sofrimento por medo de não conseguir um marido, na China, mulheres de pés grandes não conseguiam maridos. Os homens se sentiam atraídos por pés pequenos e com um arco bem grande, fazendo desses pés a parte do corpo mais desejada em uma mulher. As relações sexuais giravam em torno dos pés das mulheres.
    Como foi falado, muitos chineses, mesmo depois da proibição, ainda enfaixavam os pés de suas filhas. Em 1949, mulheres que tiveram seus pés enfaixados foram chamadas a tirarem as bandagens. Com o novo governo, os pés pequenos, que eram vistos como ícone de beleza, passaram a ser ridicularizados.
    Algumas pesquisas posteriores descobriram que os pés de flor de lótus podiam causar problemas de saúde, como fraturas na bacia, coluna vertebral e outros, graças ao tamanho e fragilidade deles.
    Não se sabe o motivo para esse costume (pelo menos eu não achei nada que explicasse sua origem), mas existem algumas lendas sobre como ele foi iniciado.

    O interessante é ver como muitos dos clichês em relação a posturas chamadas de "femininas" nas culturas são repetitivas: "mulheres que não tem X não conseguem maridos." Seja uma postura, um tipo físico, o que for, não importa. Vemos em vários locais essa idéia fixa de que mulher deve se adaptar aos desejos masculinos para que tenha um companheiro e seja feliz. Como se a felicidade da mulher só existisse quando ela tem um homem ao seu lado.
    Essa idéia desvaloriza a mulher como um indivíduo, transformando-a em um objeto de posse masculina. Não mudou muito ao longo do tempo essa visão, continuamos vendo muitas mulheres passando por sofrimentos para se encaixar no padrão de beleza ocidental de hoje em dia.
    Quando, no meu trabalho, fiz o paralelo entre os sapatos de salto de hoje e os pés das chinesas de um século atrás, foi exatamente para mostrar como nosso corpo tem a obrigação de atender aos desejos masculinos até hoje. Não sou nenhuma radical que acredita que se deve proibir o uso de saltos (eu até uso as vezes, quando sinto vontade), só acredito que precisamos pensar até que ponto a nossa saúde deve ser afetada pela "obrigação de estar bonita".
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